quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Aleph

O frio entrópico finalmente venceu a mais longa das batalhas. As últimas estrelas se apagam e a escuridão sem vida toma conta do Universo.

O tempo deixou de ser medido há muito. Perdeu completamente o sentido quando eles foram obrigados a construir colossais máquinas para levar seu mundo a singrar o Infinito, buscando o calor de estrela após estrela, como insaciáveis vampiros cósmicos.

Agora, diante do fim de todas as coisas, eles vão tentar o Insulto Final: sobreviver ao Cataclismo Universal.

Eles já foram muitos. Dos incontáveis bilhões existentes outrora, restam agora apenas algumas poucas dezenas. Muitos foram velhos o bastante para cansarem-se do que foram e sábios o suficiente para desejarem não ser mais.
Próximos à gigantesca máquina que é um derradeiro monumento à arrogância, eles ainda soltam caixas feitas de um material forte como a Natureza nunca poderia ter criado. Como um último ato de presunção, eles supõem que as informações sobre as suas existências contidas nas pequenas sondas possam vir a ser úteis ao que quer que venha a existir depois do fim. Eles nunca conviveram bem com o término das coisas – principalmente o deles.

Após sentirem-se celestiais benfeitores com seus atos mesquinhos, eles entram na grande nave que – eles têm certeza – os protegerá do Armagedon. Mas nem todos entram. Um deles não vai.

A humanidade superou todos os obstáculos que ousaram aparecer em sua frente, mas nunca conseguiu – ou pretendeu – integrar-se ao todo. O seu mais evidente legado é a individualidade. Logo, ainda agora eles conservam seus nomes.
Um chamado telepático é sentido pelo desertor – a fala já não é utilizada desde a juventude do Universo, e seria inútil no vácuo estéril – clamando por seu nome: ALEPH.

Ele recusa-se a acompanhá-los. Ele já viu tudo que havia para ver. Já sabe de tudo o que existe para saber. Está cansado e deseja a bênção do próprio fim. Ninguém ousa discutir. Ele não é o primeiro que opta pela inexistência. Ignorando-o, mas respeitando sua opinião, eles o deixam.

Portas compostas pela estrutura de galáxias inteiras se fecham. No interior do casulo monstruoso eles aguardam o espetacular Fim de Todas as Coisas. E pretendem sobreviver.

Tudo o que resta agora é o silêncio e a solidão do vazio infinito.

Privado da sensação do passar do tempo, Aleph observa as últimas estrelas frias vencidas pela esmagadora atração gravitacional se aglomerarem em buracos negros cada vez maiores. Galáxias inteiras se consomem, aglutinado-se cada vez mais e mais.

Diante de seus olhos, Aleph presencia calmamente a força irresistível da destruição, até que apenas a nave de dimensões universais encontra-se incólume, lado a lado com o gigantesco buraco negro que contém toda a matéria restante do Universo.

Após a inércia inicial dos antagonistas, logo uma titânica luta é travada: as fantásticas forças artificiais do Homem contra a irresistível força destrutiva da Criação.

Acostumado à falta de sensação do tempo, Aleph admira quando o desequilíbrio começa a se manifestar e a balança do destino pende para a Criação. Bruscamente, num espetáculo indescritível, a enorme astronave é engolida com violência pela escuridão da massa estelar.

Tornada agora apenas uma, a grande quantidade de matéria comprime-se mais, mais e mais, até que resta apenas um pedaço inacreditavelmente compacto de caldo cósmico, capaz de caber na palma de uma mão.

Aleph observa silencioso... Não entende como pode ele estar intacto e sereno, observando tudo.

Só então, ele tem ciência do que aconteceu. Dentro daquela pequena esfera existem mundos inteiros. Estrelas. Vidas e emoções. Histórias e Almas.
E, finalmente, ele sabe o que deve ser feito.

Como um pai carinhoso, ele toma a esfera nas mãos e a coloca junto ao peito. Dominado por sentimentos há muito mortos, ele é invadido por antigas emoções, velhas conhecidas. A esfera começa a pulsar e se contorcer. A quantidade de energia é inacreditável e ela explode mais uma vez.

Aleph sorri e diz:
– Faça-se a Luz!
E fez-se a Luz.


- Texto de Wilson R.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Nihil est

Apenas o grande abismo de sombras catalépticas girando ao redor dos eixos anafóricos da tristeza descendente compreendem os grandes mistérios da vida.


Ou seja, nada!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Tédio

Tédio. Tédio que compreende e determina os caminhos da própria existência enquanto si mesma.