quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Harmonia da Tarde


Chegado é o tempo em que, vibrando o caule virgem,
Cada flor se evapora igual a um incensório;
Sons e perfumes pulsam no ar quase incorpóreo;
Melancólica valsa e lânguida vertigem!

Cada flor se evapora igual a um incensório;
Fremem violinos como fibras que se afligem;
Melancólica valsa lânguida vertigem!
É triste e belo o céu como um grande oratório.

Freme violinos como fibras que se afligem,
Almas ternas que odeiam o nada vasto e inglório!
É triste e belo o céu como um grande oratório;
O sol se afoga em ondas que de sangue o tingem.

Almas ternas que odeiam o nada vasto e inglório
Recolhem do passado as ilusões que o fingem!
O sol se afoga em ondas que de sangue o tingem...
Fulge a tua lembrança em mim qual ostensório!



- Charles Baudelaire

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

A "harmonia" realmente está presente no poema! Interessantíssimo esse processo que vc forjou com a própria alma de começar o primeiro verso da próxima estrofe com o segundo verso da estrofe anterior! Nunca tinha lido poema algum com esta construção! Penso que ficou de fato encadeada uma harmonia toda insólita, no entanto, é incrível de sentir como o mesmo verso, em estrofes diferentes, pode ter sentidos diversos! Bem, relendo melhor o poema, percebi que muitos outros versos se repetem... mas isso até se passa despercebido pq, como já disse, os versos, mesmo que iguais, não o são quando mudam de estrofe! Mais algo a dizer? Sim, teria muito mais... uma palavra para resumir a globalidade do texto? BRAVO!

11 de fevereiro de 2008 às 21:44  

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